Considerações sobre o Transtorno de Oposição Desafiante (TOD)

Rosemeire Rocha Fukue
Psicóloga clínica e Neuropsicóloga

Os problemas de comportamento na infância e adolescência são os principais responsáveis por grande parte da procura por serviços psiquiátricos e psicológicos infantis. Dentre eles encontram-se o Transtorno de Oposição Desafiante (TOD), este transtorno é classificado como um transtorno disruptivo do controle do impulso e da conduta.

O transtorno de oposição desafiante se caracteriza por um padrão de humor raivoso, irritável e de comportamento questionador e desafiante ou índole vingativa principalmente com figuras de autoridade.

Crianças e adolescentes com este transtorno geralmente discutem excessivamente com os adultos, questionam o tempo todo e tudo, são pouco cooperativos, não aceitam responsabilidade por sua má conduta e perdem com facilidade o controle se as coisas não são como desejam, dessa forma, evidencia-se  grande dificuldade em tolerar frustrações e em lidar com situações de tensão.

Esses comportamentos/sintomas levam a um prejuízo na vida acadêmica, social e familiar, ou seja, um padrão global de desobediência, desafio e comportamento hostil principalmente em casa e no ambiente escolar, em geral por serem espaços onde são mais exigidos em relação a regras e disciplinas de convivência. Os sintomas deste transtorno também podem se limitar a apenas um ambiente, neste caso o mais frequentemente é em casa. Todavia, nos casos mais graves, os sintomas do transtorno estão presentes em múltiplos ambientes. Por tanto, para um diagnóstico preciso é necessário analisar as manifestações comportamentais em todos os ambientes onde a criança ou adolescente convive diariamente.

O Transtorno Desafiante de Oposição é mais comum em meninos do que em meninas antes da adolescência. Os primeiros sintomas do transtorno costumam surgir durante os anos pré-escolares e, raramente se inicia na adolescência. 

Este transtorno apresenta indicadores típicos de comportamentos disruptivos de natureza menos severa do que o transtorno da conduta. Geralmente não incluem agressão, destruição de patrimônio e furtos ou defraldação, no entanto, é considerado um fator de risco para o desenvolvimento do Transtorno da Conduta. Outros transtornos também podem surgir em decorrência do   transtorno de oposição desafiante, como o desenvolvimento de transtornos de ansiedade e transtornos depressivos. E com frequência o Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) é comórbido com o transtorno de oposição desafiante.

Para um diagnóstico diferencial é necessário alguns cuidados, devido ao fato que alguns destes comportamentos serem considerados normais durante o desenvolvimento na infância e adolescência, como por exemplo a fase entre 1 ano e meio a 3 anos e meio quando estão passando pela fase da “adolescência da primeira infância”, neste período apresentam muitos comportamentos que se assemelham aos do Transtorno de Oposição Desafiante. Neste sentido é necessário avaliar a persistência e a frequência desses comportamentos para diferenciar o que é esperado, ou seja, normal e o que é sintomático do transtorno.

Segundo o DSM 5, que é considerado o sistema diagnóstico mais amplamente utilizado. Em casos de crianças com idade abaixo de 5 anos, o comportamento deve ocorrer na maioria dos dias durante um período mínimo de seis meses. Nos casos das crianças com 5 anos ou mais, o comportamento deve ocorrer pelo menos uma vez por semana durante no mínimo seis meses. Ainda para o diagnóstico o DSM 5 define como um modelo de comportamento que deve satisfazer quatro (entre oito) critérios por pelo menos seis meses com disfunção social ou ocupacional. Dentro destes critérios são avaliados o Humor Raivoso e Irritável, o Comportamento Questionador e Desafiante e a Índole Vingativa.

O Diagnóstico não deve ser utilizado ou visto como uma ferramenta para estigmatizar o indivíduo tão pouco para justificar sua conduta inadequada, mas sim, como um aliado para nortear as intervenções necessárias em busca de uma qualidade de vida para o indivíduo e sua família.

Quanto as possíveis causas para o desenvolvimento deste transtornos, não há nenhuma causa completamente compreendida, acredita-se em uma combinação entre fatores genéticos e fatores ambientais.


Para finalizar como sempre enfatizo em meus textos, quando falamos em tratamento devemos sempre considerar os aspectos biopsicossociais, dessa forma não se manter somente na intervenções medicamentosas, pois é de estrema importância a intervenção psicológica e social, falarei mais sobre isto em outro texto do qual estou trabalhando, mas só para introduzir o assunto, quando pensamos no tratamento, é indicado psicoterapia individual para a criança e ou adolescente semanal, com sessões de 50 minutos, dentro das abordagens cognitivo-comportamental ou comportamental, aliado a orientação familiar ou treino de pais, do qual falando resumidamente este treino consiste em ensinar os pais a realizarem a modificação do comportamento dos filhos, através de técnicas cognitivas-comportamentais. Este treino também pode ser realizado somente com os pais em casos de adolescentes que se recusam a realizar a psicoterapia, acompanhamento psiquiátrico principalmente quando houver comorbidades, ou seja, outras doenças associadas como o TDAH, por exemplo, por último mas não menos importante orientação com a escola periodicamente. 

Espero que a leitura possa contribuir com os objetivos do leitor. Contribuições, comentários e considerações são sempre muito bem vindos.
Abraços
Rose Fukue

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