Por que as crianças mordem? O que fazer?
(Baseado
numa palestra ministrada para pais e professores/cuidadores de uma escola de
educação infantil, 2015).
Rosemeire Rocha
Fukue
Psicóloga clínica
e Neuropsicóloga
rosefukue@gmail.com
rosefukue@gmail.com
As manifestações de
agressividade em bebês e crianças pequenas geralmente causam um impacto
negativo nos pais, familiares, professores, outros cuidadores, além do público
em geral quando presenciam e nos familiares dos coleguinhas quando as mordidas
acontecem na escola. Esse impacto se dá pelo fato da maioria das pessoas
desconhecerem e ou não compreenderem o que esses comportamentos significam,
sendo, por tanto, considerados como um comportamento ruim que precisa ser extinto
imediatamente.
O
desejo e a necessidade dos pais, professores e outros cuidadores de eliminar o
problema de imediato sem parar para entender o seu significado e quais as suas
motivações se dá pelo constrangimento que a ação causa, que por sua vez, pode
levar a intervenções inadequadas por parte do adulto envolvido na situação. Tais como: revidar a ação da criança (mordendo
de volta, por exemplo), bater e ou castigar.
Para entender essas
manifestações nas crianças é preciso considerar que o comportamento humano
indica como o indivíduo encontra-se emocionalmente. A manifestação
infantil da mordida tem diversos significados dependendo do momento que a
criança está vivendo e é importante considerar que essa
manifestação comportamental é normal a todas as crianças até aproximadamente os
3 anos de idade. Ou seja, expressar agressividade mordendo, gritando, puxando
os cabelos da mãe e outras manifestações de impulsos desagradáveis aos olhos de
quem vê, é normal. Para algumas crianças mais outras menos e pode aumentar ou
diminuir conforme seu estado emocional. Algumas mudanças no ambiente, como a
espera de um irmão ou a entrada de um colega novo na turma da escola o que leva
a dividir a atenção da mãe/professora podem ser razões suficientes para
precipitar o surgimento destes comportamentos.
Quando uma criança
começa a manifestar esses comportamentos agressivos, o que ela necessita
prioritariamente é de compreensão e paciência por parte dos pais, professores,
familiares e outros cuidadores. Principalmente por elas não saberem o que estão
sentindo tão pouco a forma correta de demonstrar.
Faz-se necessário
compreender que as crianças pequenas/bebês manifestam a agressividade quando estão
excitadas (felizes, eufóricas) e ou frustradas (bravas, com raiva, insatisfeitas).
Dessa maneira podemos entender que os comportamentos agressivos são
demonstrações de sentimentos, sejam eles bons (excitadas) ou ruins (frustradas)
o que causa o estranhamento para os adultos que desconhecem o funcionamento do
desenvolvimento emocional na primeira infância é que a criança demonstra da
mesma maneira os sentimentos bons e os ruins, elas não conseguem diferenciar e
demonstrar de maneiras diferentes os seus sentimentos.
É tarefa do adulto
mostrar o caminho; para isto o primeiro passo é observar; observar para
compreender o que a criança está sentindo e tentando dizer, pois as mordidas
também são uma forma de comunicação. Se, o adulto responsável pela criança
entender terá condições de intervir de forma assertiva e adequada ensinando a
criança a identificar, nomear e demonstrar seus sentimentos adequadamente. Essa
tarefa é muito importante para o desenvolvimento emocional da criança desde
bebezinho, pois as intervenções inadequadas podem causar uma confusão mental na
criança que poderá seguir se desenvolvendo permanentemente confusa.
A paciência é o
principal ingrediente desta tarefa, não esperar que o “problema”, seja
resolvido de imediato, e nem que a criança aprenda em dois meses como
identificar, seus sentimentos e demonstrá-los adequadamente (existem pessoas
que chegam a vida adulta sem saber fazer esse processo), a tarefa é complexa e
o comportamento pode persistir por um longo período aparecendo de forma
intermitente.
O que fazer? Como fazer?
Acima de tudo muita
paciência, compreensão, observação e intervenções seguras, assertivas e
afetuosas.
Primeiro
devemos olhar nos olhos da criança que por ventura tenha mordido nos abaixando
a sua altura com objetivo de conversar sobre o ocorrido, não importa se ela tem
10 meses ou 3 anos, temos que conversar, atenção; conversar não dar bronca e
nunca revidar a agressão, ou excluir a criança rotulando-a de “criança
problema”.
Nessa conversa dizer
para a criança que “Não pode fazer isto”, “dói”, “machuca”, “isso não me deixa
feliz”, fazer uma expressão fácil de dor para que a criança comece a
identificar os sentimentos e emoções também é valido, principalmente para os
bebês.
Quando a criança morde outra criança, é importante a mediação de um
adulto, para fazer com que ela reflita sobre o que fez e para entender que há
outras maneiras de conseguir o que deseja. "O adulto deve mostrar à
criança que há outros meios de expressar-se ou de conseguir o que quer. Pode-se
dizer, por exemplo: “se você não gostou do que ele fez, vamos dizer isso a
ele”, ou “você quer o brinquedo? Então vamos pedir o brinquedo”. Aos poucos, a medida que a linguagem for
sendo desenvolvida e as construções sociais adquiridas, as mordidas vão sendo
substituídas pelo diálogo. Desta forma, o melhor é conversar com a criança, não
adianta excluí-la do grupo. A melhor maneira de aprender a conviver bem é
experimentado a convivência.
Outra dica que pode ser importante para resolver o problema e
consequentemente ajudar a criança a elaborar seus sentimentos sem se sentir a
pior das crianças, a criança ruim, estragada é permitir a ela que corrija e
conserte o que fez, neste ponto pode-se:
• Mostrar
o ferimento do colega e explicar que ninguém gosta de sentir dor.
• Oferecer
maneiras para que a criança que mordeu possa ajudar a fazer o “curativo” na
criança mordida.
Pensando em ambientes comunitários como a escola,
clubes e outros é importante que os professores e orientadores procurem
descobrir o motivo que fez surgir tal comportamento e mostrar a criança outras
formas de expressão, evitando separá-las do grupo e ou coloca-las em situações
constrangedoras, como por exemplo “o cantinho para pensar ou da reflexão”. Tentar
solucionar o problema no contexto onde aconteceu e na hora que aconteceu,
porém, quando o fato se mostrar repetitivo e algo mais se manifestar, é preciso
chamar os pais, para juntos, em parceria, encontrar as causas e eventuais
estratégias para ajudar a criança.
O objetivo deste texto
é transmitir aos pais, professores e outros cuidadores aflitos que a ação de
uma criança morder alguém próximo pode ser considerado absolutamente normal e
condizente com a faixa etária e que esse comportamento aparece e desaparece à
medida que a criança vai amadurecendo e encontrando outras formas de exploração
do ambiente, comunicação e expressão de sentimentos. E as intervenções que
serão eficazes e adequadas são as regadas de amor, paciência e compreensão. Caso
os pais e ou professores tenham dúvidas em como agir, o indicado é buscar
orientação de um psicólogo infantil.
Também vale ressaltar
que se o comportamento torna-se persistente
e frequente, pode ser o indicativo de que a criança está necessitando de
ajuda especializada para passar por essa fase, pode ser um alerta para um
problema maior, nesse caso faz-se necessário procurar a ajuda de um psicólogo
infantil para avaliar e se necessário tratar.

Realmente muito importante saber identificar e ajudar as crianças a compreenderem e lidarem com seus sentimentos, fantástico!
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